sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Não sei mais se alma tenho

tem sentimento pior do que perceber que tudo soa tão, mas tão presente? como disse-me uma vez, crise é passo ao lado. não à frente, nem atrás. como que uma metamorfose. aprender a cuore agire (do latim, agir com o coração. em português: coragem).

sábado, 10 de dezembro de 2011

um dia, Sofia escreveu

você se lembra daquela vez, ao telefone, em que falamos sobre o que temíamos? eu disse que temia que você um dia chegasse para mim e dissesse, "o que eu quero mesmo é essa vida", e terminasse. e você, quase que a mesma coisa: "tenho medo que você um dia se canse de tudo isso". e acho, desde aquele momento, que eu estava certa (ainda mais com tudo o que aconteceu após essa conversa telefônica reveladora e verdadeiramente sincera). você não me disse com essas palavras, mas o fez. e eu, como num ato de arrogância e medo, prefiro entender que eu já sentia a sua falta. por isso mesmo deveria ter sido fácil aceitar e esquecer. mas não foi, e não é. como uma ferida aberta eu ainda tento esquecer e aceitar os conselhos de outrém, "nada na vida é definitivo, sofia". e não é. você não foi. e nada é senão mais que uma verdade efêmera (inserida em um determinado recorte de tempo). e, enquanto escrevo esta carta, caem algumas lágrimas no teclado. algumas em que nem eu mesma sei por que ainda caem. mas o fato é que elas caem e me fazem sentir, de novo, a angústia do não-ter-não-ser-não-existir, ao menos no seu mundo e, para você. elas estão no passado, assim como eu: anestesiada e crente de que foi melhor assim. aí, talvez, eu consiga me encontrar, para depois, reencontrar você.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Na dança da solidão

"[...] atordoado por duas nostalgias que se contrapunham como dois espelhos, perdeu seu maravilhoso sentido de irrealidade, até acabar recomendando a todos que fossem embora de Macondo, que olvidassem tudo o que ele havia ensinado do mundo e do coração humano, que cagassem para Horácio, e que em qualquer lugar em que estivessem recordassem sempre que o passado era mentira, que a memória não tinha caminhos de regresso, que toda primavera antiga era irrecuperável, e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efêmera".

MARQUEZ, García Gabriel.

domingo, 21 de agosto de 2011

Bullshit!

'Merda!', esbravejou.
Pintei as unhas, quebrei o copo.
Vesti a roupa.
Olhei no espelho e, de novo.
Lá está.
Não adianta arranjar mais... desculpas?
É tudo parte de um jogo.
'Or you win, or you die!'
Sujo.
Não quero, e não admito.
As unhas pretas com um fundo de brilho refletiam os seus olhos.
E mais uma vez ela sentiu que há ainda algo.
Ensurdecedor.
Desisti, tirei toda a maquialagem.
Borrada, já chorei tudo o que devia mesmo.
E dei de ombros para toda aquela merda.
'Só o que eu peço...
é que você não vá embora...
nunca!', disse ao agarrar o travesseiro.

sábado, 11 de junho de 2011

A angústia

é sempre sobre as pequenas mortes da vida.
brigas, perdas, choros.
amigos, pais, famílias.
e a falta, e a ausência de algo que sempre está presente.